COMPOSTAGEM: RESSIGNIFICANDO O "LIXO" ORGÂNICO



Muito se fala sobre separação do lixo, muito se fala também na separação do "orgânico" e do "reciclável", mas pouco se fala sobre o que é, definitivamente, o "orgânico" que tanto se ouve falar. Precisamos ressignificar o "lixo" orgânico para entender e reconhecer a dinâmica do desperdício.

O signficado de desperdício é 1. gasto exagerado; esbanjamento e 2. uso sem proveito; perda. Nesse ciclo estão envolvidas muitas camadas, no topo temos o consumo excessivo e inconsciente, em seguida temos a má administração, seja ela financeira ou não. Depois há o desperdício concretamente, quando o consumo exacerbado somado à má administração dos produtos gera perdas. Temos então, como a própria palavra nos diz, o gasto exagerado + uso sem proveito = perda/desperdício.


A consequência dessa dinâmica é o gasto desnecessário e um prejuízo financeiro e ambiental, afinal, não se responsabilizar desde o início do ciclo pelo que se consome nos faz esquecer que não existe "fora", já que a nossa casa não é o mundo que habitamos, é somente parte dele.

Hipoteticamente falando, se pelo menos metade da população compostasse, reduziríamos em aproximadamente 90% emissões de CO², de contaminação da água (nascentes, rios, mares), da contaminação dos lençóis freáticos e do próprio solo dos aterros sanitários. Isso porque a compostagem se limita à degradação do resídio orgânico, ou seja, não há nenhuma forma de contaminação desse resíduo que não é misturado à plástico, fezes e urina, resto de carcaça animal e outros, produzindo, portanto, um chorume livre de toxidade e riquíssimo para o solo que seria bem direcionado desde o início do ciclo.

Quando o "lixo orgânico" passa a ser então um "resíduo" e esse resíduo não é "resto", mas sim a ressignificação do que foi antes o nosso próprio alimento, passamos a dar outros significados para as coisas. A compostagem nos faz ter uma relação diferente com a nossa comida e com a nossa produção de "lixo", tudo o que iria para o "lixo" convencional se misturar e se contaminar com resíduos tóxicos diversos, vira adubo e biofertilizante, nesse grande potencial de transformação natural do que foi antes um alimento, ressignificamos e entedemos que naturalmente tudo se transforma na natureza e que é possível entrar nesse ciclo, pois quanto mais próximos estivermos do natural, menos danos ambientais geramos. 


A SEPARAÇÃO DO LIXO É IMPORTANTE
Separar o nosso lixo e destinar cada coisa ao lugar correto para que ele seja tratado da melhor forma é essencial para evitar que quilos e quilos de lixo cheguem até os aterros, contamine e prejudique o solo. 

RESÍDUO ORGÂNICO É IMPORTANTE
O resíduo orgânico é 50% do "lixo" de uma família, portanto, nesse caso, a compostagem reduz a quantidade de lixo que é enviado para os aterros sanitários e evita que o resíduo orgânico produza gases e líquidos tóxicos se misturado com outros materiais tóxicos.

Quando o resíduo orgânico deixa de ser "lixo" ele é ressiginificado e passa a ser transformado em matéria orgânica com grande potencial, fazendo com que tudo o que foi produzido possa retornar ao início do processo (ciclo) de forma natural. Seria inviável que essa matéria orgânica se transformasse em adubo ou biofertilizante dentro de uma sacola plástica, que demora de 100 a 400 anos para se degradar completamente, sendo contaminada com papel higiênico com fezes, urina e menstruação, fezes e urina animal, carcaça animal (pele, ossos, gordura e outros), baterias e pilhas, embalagens plásticas e outros muitos materiais.


BENEFÍCIOS DA COMPOSTAGEM DOMÉSTICA
  • NÃO GERA CHEIRO RUIM: O composto orgânico naturalmente não possui odor, isso quando ele não entra em contato com outros materiais tóxicos (responsáveis pelo fedor);
  • SE APROXIMA DO CICLO NATURAL: O processo natural é vida e morte, o que não foi comido tem grande potencial para se tornar adubo, já que é assim que se comporta na natureza;
  • NÃO PRECISA, NECESSARIAMENTE, DE MINHOCAS: Há quem prefira fazer a compostagem sem minhocas (compostagem microbiana), funciona igualmente apesar de ser mais lento;

O QUE PODE E O QUE NÃO PODE
A compostagem também possibilita que a gente repense nossa alimentação, isso porque existe uma lista seleta do que pode e o que não pode ser colocado em uma composteira. 

Resto de animais como pele, ossos, gordura e outros são de difícil digestão, por isso não podem ser colocados na composteira. Além disso, a indústria da carne é a maior e principal responsável por exploração animal, exploração do trabalho, poluição de rios e esgoto, aumento de doenças transmissíveis (a COVID-19 está aí para comprovar a necessidade de repensar hábitos alimentares), contaminação e toxidade do solo por agrotóxicos, antibióticos e carcaça animal contaminado, alta resistência à antibióticos, invasão de territórios para garimpo ilegal, limpeza étnica e genocídio de povos originários, desmatamento, aquecimento global, derretimento das calotas polares (responsáveis por resfriar o planeta), desperdício de água, entre outros.


PROJETO COMPOSTA SÃO PAULO
Em São Paulo, a Morada da Floresta (desenvolvedora do projeto Humi, a composteira feita a partir da reciclagem de embalagens de leite e suco de caixinha, a tetra pak) em parceria com o ex prefeito da cidade, Haddad, desenvolveram um projeto de compostagem coletiva chamado Composta São Paulo (www.compostasaopaulo.eco.br/), com objetivo de incentivar a população à compostar resíduo orgânico, nesse projeto foram distribuídas mais de mil composteiras para diversas famílias participantes, além de cursos e palestras sobre compostagem.



Por que não fazer desse "lixo" algo melhor, já que na natureza tudo se transforma?
Compostar é um ato político! 

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